O Negócio do Suicídio está caro

Conversa com um suicida( bem, ainda não se matou portanto acho que é só uma conversa com uma pessoa que se vai matar, mas assim soa mal, portanto vou escrever suicida)

Tem Emprego?

Fui despedido.

Porquê?

Andava deprimido, trabalhava pouco, mas não era o único, todos faziam o mesmo, mas estava agastado, ver, ouvir tanto disparate, a trafulhice, estava cansado, um dia disse o que me ia na alma e despediram-me.

Mas onde trabalhava?

Parlamento.

E esta ideia do suicídio, surgiu nessa altura?

Não, de seguida fui para o centro de desemprego e nessa altura foi a primeira tentativa, por tédio, a fila, a espera, o atendimento.

Não resultou?

Que pergunta mais estúpida, o que é que lhe parece, pareço-lhe morto?



Não. Voltou a tentar?

Sim.

Como?

Tentei gás, tinham cortado não paguei, tentei atirar-me de carro para um rio,não consegui tirar o carro da garagem, tentei fumo de escape, acabou o combustível, tenho tido falta de recursos.

Desistiu?

Não, agora ando a poupar para o suicídio, tenho que pagar as despesas da morte e isso ainda saí caro.

Não vive num prédio?

10º andar.

Porquê é que não se atira da janela, não era mais barato?

Não me quero aleijar e o sangue ia ficar tudo sujo de sangue e ficava todo desfigurado e ainda caia em cima de alguém e além disso o que é que fazia todo aquele tempo durante os dez andares.

Lia uma revista?

Nã, as páginas e o vento, não dava.

Não se mate pense na sua família?

Não tenho, foi penhorada pelas finanças.

Amigos, também me penhoraram o computador.

O que é que isso tem com a ver com amigos?

Facebook, já tinha três mil oitocentos e cinquenta e sete amigos, até tinha dez chineses.
(orgulhoso)

Mas na vida real?

Nenhum.

Isso é muito mau.

(Sobe uma cadeira) Isso não se diz eu sou um suicida, não diga isso,  eu salto, ouviu, eu salto, estou a falar a sério, eu salto!

Desça daí que ainda se aleija, olhe pelo seu país, não está orgulhoso dele?

Tenho muito orgulho do meu país, infelizmente não vou lá muitas vezes.

Não é português?

Não a maternidade estava fechada, nasci em Espanha, só lá vou ás vezes, você sabe combustível, fazer as compras do mês.

Mas deve haver alguém que goste de si?

Não, é precisamente por isso que me quero matar, para ser elogiado e ter pessoas a dizer o ser humano extraordinário que sou e como faço falta neste mundo.

Mas alguma paixão deve ter desporto, futebol, qual é o seu clube?

Sporting.

Ok, percebo o seu problema, não vamos falar mais disso.
Mas com certeza foi feliz em algum momento da sua vida.

Na infância, andei na escola até á 4ª classe depois a minha mãe, era a professora, foi despedida , descobriram que era analfabeta, de modos que nessa altura abri a minha própria empresa a Apple, venda de maças ia rouba-las ao meu vizinho Clemêncio e vendia-as aos cafés, começou por chamar-se Maçã mas depois descobri que em Inglês vendia o dobro.

Apple?! Não tem nada a ver com computadores, não?

Claro que não, maças como marca de computadores, isso não faz sentido?!

Já tentou alguma linha de apoio?

Já infelizmente, tentei na passada quarta-feira( debate do PEC) á tarde, estava ocupada.Pensei que fosse um sinal dos céus.

É crente portanto?

Não percebeu mal, dos céus porque pensei que estava sem rede no telemóvel.

Agora que se vai matar, podia-me deixar alguns bens materiais?

Eu até deixava-lhe tudo, mas já não me vou matar.

Deixava tudo?!

Sim.

Então, talvez deve-se reconsiderar sabe com a crise e isso tudo talvez matar-se (e deixar-me bens) não fosse tão má ideia.

Não já desisti mesmo da ideia, estava a escrever a nota de suicídio e descobri que tinha talento, depois investiguei e percebi que não existem cartões de suicídio, empresas organizadoras destes eventos, ninguém financia, ninguém apoia, vou abrir uma empresa de suicídios, acho que já está na altura, espero lucrar muito, mas como é óbvio vai ter que ser pré-pagamento , estou-lhe a dizer é o futuro.
O negócio dos suicídios.

Agora tenho que ir que vai ali alguém que parece deprimido e eu vou lá oferecer os meus serviços.